Dói

É estranho, até bizarro, depois de tanto tempo o rosto dele volta e meia assombrar seus sonhos. E ela sempre acordava com aquela sensação ruim, aquela angustia. E as lembranças ruins que ha muito não davam as caras se faziam presentes, machucando forte como nos primeiros dias.

Ela podia ver nitidamente o dia que ele foi embora. Foi assim, sem mais nem por que. Apenas tinha se cansado dela. Não, ele não usou essas palavras na despedida. Disse apenas que não podia feze- la feliz. E ela o viu saindo pela mesma porta pela qual entrara tantas vezes e por onde não passaria mais . "Volta!" Ela falou baixinho. Ela poderia gritar, espernear, correr atrás dele e segurar forte a sua mão.Poderia. Mas não fez. E não fez por que o conhecia suficientemente bem pra saber que quando ele tomava uma decisão dessas nunca voltava atrás.

Ainda sentindo os lábios dele nos seus depois do último beijo vazio, ela reuniu forças e entrou Sentou- se no chão, já não sabia mais se era dia, noite, tarde. Sentia tudo queimando lá dentro. Então ela só pôde chorar ouvindo a voz que vinha lá do seu peito"Dói."A mesma voz que mesmo depois de tanto tempo, ainda falava sempre que ela acordava de mais um sonho ruim.